Após dois dias intensos de julgamento, o Tribunal do Júri de São Paulo condenou o comerciante Paulo Cupertino Matias a 98 anos de prisão pelo assassinato do ator Rafael Miguel e dos pais dele, João Alcisio Miguel e Miriam Selma da Silva. A sentença foi proferida na noite desta sexta-feira (30). Outros dois réus envolvidos no processo foram absolvidos.
O crime aconteceu em 9 de junho de 2019, quando Rafael, conhecido por seu papel na novela Chiquititas, foi morto a tiros junto aos pais. Eles haviam ido até a residência de Cupertino, localizada no bairro do Socorro, zona sul da capital paulista, para conversar sobre o relacionamento de Rafael com Isabela Tibcherani, filha do condenado.
Segundo o Ministério Público, Cupertino não aceitava o namoro da filha com o ator e agiu movido por sentimento de posse e intolerância. A denúncia aponta que ele atirou pelo menos 13 vezes contra as vítimas, que morreram ainda no local. Após o crime, Cupertino fugiu e permaneceu foragido por cerca de três anos, até ser preso em 2022.
Durante o julgamento, promotores descreveram Cupertino como alguém de “caráter repugnante”, que agiu com ódio. O promotor Thiago Marin destacou que o réu utilizou disfarces enquanto estava foragido, mas manteve a mesma conduta violenta. A Promotoria também revelou que ele havia apagado uma tatuagem no braço com os dizeres: “marginal sempre marginal”.
Testemunhos revelam histórico de violência
Depoimentos de familiares expuseram um histórico de agressões praticadas por Cupertino. A filha dele, Isabela Tibcherani, relatou que presenciou espancamentos da mãe desde a infância. Em uma ocasião, disse ter visto a mãe com cortes e hematomas após uma briga em que o pai a agrediu com facão.
Isabela também afirmou que foi vítima de violência, incluindo uma situação em que o pai teria quebrado um prato de vidro em sua cabeça. A mãe da jovem, Vanessa Tibcherani, também prestou depoimento e confirmou os abusos. Segundo ela, Cupertino chegou a quebrar sua costela sete vezes e o nariz em quatro ocasiões. Vanessa ainda relatou que foi ameaçada após registrar um boletim de ocorrência em 2004 por violência doméstica.
A Promotoria refutou a tese da defesa, que tentou levantar dúvidas sobre a autoria dos disparos. Para o promotor Rogério Zagallo, não houve nenhuma evidência de assalto ou presença de outro atirador. “Se não foi ele, por que usou o carro para fugir e não socorrer? A defesa não apresentou nenhuma versão plausível”, afirmou.
Com a sentença, Paulo Cupertino seguirá preso e deverá cumprir pena em regime fechado. A decisão encerra um dos casos de maior comoção pública nos últimos anos envolvendo crimes passionais e violência familiar.